BARCO DE PAPEL
João Chamiço
Que fui pôr a navegar
Prendi-o com um cordel
P’ra ir com ele brincar.
Sem que eu saiba explicar
Quebrou o fino cordel
E lançou-se no alto mar.
Eu fiquei, a vê-lo partir,
Desgostoso no meu cais;
Queria nele seguir
Mas era tarde demais.
Vi-o partir, na viagem
E eu, tão estranhamente
Fixado na sua imagem
Olhava-o infinitamente.
Então, como por engano
Dei comigo embarcado
Entre as vagas do oceano
E o céu todo estrelado.
Só vi brincando felizes
Meninos por toda a terra
Fui a todos os países
"Nunca vi fome nem guerra".
Em bátegas de furor
E tardes de calmos ventos,
Era a mão do Redentor
A livrar-me dos tormentos.
Que faço neste batel
Todo feito de papel?
Não me perguntem, não sei!
Nem como foi que embarquei!
Mas o barco de papel
No rumo que leva a vida
Veio ancorar no cordel
Ao mesmo cais da partida.
Esta história que contei
Do meu barco de papel,
Acabou quando acordei
Sem ver barco nem cordel.
João Chamiço