AOS QUE SUMIRAM
João Chamiço
Sem espaço livre nos sentidos,
Passamos às vezes distraídos
Sem olharmos o brilhar da esperança…
Um raiar de aurora tão intenso
Só possível no clarão imenso
De uns olhitos ternos de criança.
De repente, soam os tambores
E as trombetas, e sons dos horrores,
E a má nova corre sem parar;
De boca em boca, de rua em rua,
P’rá notícia da verdade crua
Está a Terra inteira a olhar…
Outrora, havia ladrões de gado
Que roubavam animais de prado
E a outros donos vendiam posse;
Hoje, por toda a terra sumidas
Em “mercados” globais são vendidas
Crianças; como se gado fosse…
É urgente agrilhoar as bestas
P’ra que outras notícias que não estas
Reacendam a chama da esperança…
Faz falta gritar quanta revolta
Há em nós; Por tais cabrões à solta
Roubarem sorrisos de criança…
Faz falta, que as multidões em coro
Se juntem no clamor deste choro
De todas as mães num pranto estranho…
P’ra que jamais crianças chorosas
Sejam “pasto” de ovelhas ranhosas
Que andam “tresmalhadas” do rebanho…
Aqueles que não rezavam, rezam
Orações que os rufias desprezam
Surdos aos prantos da multidão…
Aos retratos vis do desalento
Trás cada um o olhar atento
Na procura dos chacais – Em vão.
João Chamiço
Ao Rui Pedro, à Madelaine, e a todos os meninos que, não se chamando assim, é assim que por eles iremos bradar doravante, embora saibamos o nome de cada um.
Madelaine
Rui Pedro
A Joana sumiu sem deixar rasto
A angustia cresce de dia para dia mas nao vence a determinacao em encontrar a Rita. Ha tres semanas, familiares e amigos encetaram uma incessante busca da jovem de 18 anos, que sofre de esquizofrenia e desapareceu sem deixar rasto.
Jorge Manuel desapareceu a 15 de Agosto de 1991
P.S. Deixem-me confessar que gosto particularmente de terminar os meus poemas deixando sempre um sinal de esperança. Neste caso infelizmente a inspiração não me levou para aí.
Quem dera que eu viesse rápidamente a sentir a necessidade de acrescentar mais uma estrofe, na qual não coubesse a frase "em vão".