O MEU BARCO DE PAPEL
João Chamiço
Fiz um barco de papel
Que fui pôr a navegar
Prendi-o com um cordel
Pra ir com ele brincar.
O meu barco de papel
Sem que eu saiba explicar
Quebrou o fino cordel
E lançou-se no alto mar.
Eu fiquei, a vê-lo partir,
Desgostoso no meu cais;
Queria nele seguir
Mas era tarde demais.
Vi-o partir, na viagem
E eu, tão estranhamente
Fixado na sua imagem
Olhava-o infinitamente.
Então, como por engano
Dei comigo embarcado
Entre as vagas do oceano
E o céu todo estrelado.
Só vi brincando felizes
Meninos por toda a terra
Fui a todos os países
Nunca vi fome nem guerra.
Em bátegas de furor
E tardes de calmos ventos,
Era a mão do Redentor
A livrar-me dos tormentos.
Que faço neste batel
Todo feito de papel?
Não me perguntem, não sei
Nem como foi que embarquei.
Mas o barco de papel
No rumo que leva a vida
Veio ancorar no cordel
Ao mesmo cais da partida.
Esta história que contei
Do meu barco de papel,
Acabou quando acordei
Sem ter barco nem cordel.
2004-02-29
F. Januário (pseudónimo)