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Aqui, no OBSERVANTES, têm lugar privilegiado:

A poesia, os sonhos e a utopia. A critica incisiva às realidades concretas de Portugal e do mundo baseadas na verdade constatada e só nela. "A verdade nunca é injusta; pode magoar, mas não deixa ferida". (Eduardo Girão)

Aqui, no OBSERVANTES, têm lugar privilegiado:

A poesia, os sonhos e a utopia. A critica incisiva às realidades concretas de Portugal e do mundo baseadas na verdade constatada e só nela. "A verdade nunca é injusta; pode magoar, mas não deixa ferida". (Eduardo Girão)

26.03.06

FEIA


João Chamiço

Hoje, feia te vou chamar,

Já que, quando te chamo bela

Dizes com teu ar de donzela

Que eu estou a exagerar.

 

Eu bem sei, que estou a mentir,

Sem intuito de maldade;

Mas sempre que digo a verdade,

Tu te recusas a admitir.

                    

Mas ainda que a tua beleza,

Fosse por subtil singeleza

Uma realidade ausente;

 

A que mora, dentro de ti

Que ao amanhecer pressenti

Estaria p’ra mim presente.

                        f.januário(pseudónimo)

 

26.03.06

SILÊNCIOS


João Chamiço

Nem as pedras da calçada

Que pisas tão delicada

Me dizem se lá caminhas:

As gaivotas, confidentes

Sabem das agruras minhas

E o rigor com que me mentes.

 

Se existem no teu caminho

Tapetes de puro linho

Que alguém te quis estender,

Os meus não pude mostrar

Porque os não quiseste ver

Nem sobre eles passar.

 

À lua mando recados

Ela não ouve os meus brados

E eu não a posso obrigar;

Se uma noite ela quiser

Meus recados te levar

Silêncios lhe vou dizer.

 

Até lá, vou ficar mudo

Nem direi que mais que tudo

Me consome a tua ausência;

E de olhos fixos no chão

Cumprirei em penitência

Penas da minha ilusão.

 

“O vento cala a desgraça”

E o grito de quem passa

Silêncios que ensurdecem,

Verdades nuas e cruas

Que não dizes, me entristecem

Não saber de novas tuas.

 

João Chamiço

19.03.06

PENSEI


João Chamiço

Pensei chamar-te de “|a|m|o|r|

Não pude chamar-te assim,

Preferi chamar-te flor

Com perfume de jasmim.

 

Pensei chamar-te “|a|m|a|d|a|

Mas podias não gostar,

Chamei-te antes de fada

Óh musa do meu cantar.

 

Pensei chamar-te “|_|_|_|_|_|_|”

Fiz minha boca calar,

Não fosse o meu coração

Dizer p’ra me apaixonar.

 

Pensei chamar-te “|_|_|_|_|_|_|_|”

Chamei-te antes, mulher,

Se isto é doença sem cura

Dela eu quero morrer.

 

Pensei chamar-te de Musa

Gaivota, Ninfa do Tejo,

Chamei-te botão de blusa

Tão perto do meu “|_|_|_|_|_|_|”

 

F. Januário

 

 

18.03.06

A REVOLTA


João Chamiço

Se a torrente faz o rio transbordar

E soltar-se das margens em convulsões.

A revolta que a excessos dá lugar

Salta das margens, como as revoluções.

 

Mas quando o rio, mostra a sua revolta

Reclama o domínio que lhe pertence,

E a fúria da Natureza anda à solta,

Correm no rio, forças que ninguém vence.

 

Do rio, se diz que é tumultuoso;

E as margens que o contraem? O que são?

O rio, só se liberta revoltoso,

E o servo, da orla da escravidão.

 

Quando o rio se amansa, tudo é perfeito

E tudo em seu redor tende a se acalmar;

O gigante, adormece no seu leito

São as forças da revolta a descansar.

 

F. Januário

15.03.06

ALGEMAS


João Chamiço

ALGEMAS
(Soneto a Florbela)
 
As flores de amor-perfeito
Que decoram tuas tranças,
São aquelas que em meu peito
Ressuscitam as lembranças.
 
Teu coração me namora
Em paixões de faz-de-conta;
Que em rimas tuas de outrora
Amor novo me desponta.
                                                                
Cinco versos, redondilha,
Cinco cais de uma só ilha
Os dedos com que me “agarras”.
 
Os versos dos teus poemas
São as chaves das algemas
E as cordas com que me amarras.
.
João Chamiço 
.
 
Algemas, (Soneto a Florbela), podia perfeitamente chamar-se (Soneto a Natália (Natália Correia), e é nem mais nem menos que um sincero tributo a todas as poetisas, sejam elas consagradas ou não.
A todas as mulheres que através da escrita poética nos levam em viagens pelo interior dos seus próprios sonhos.
12.03.06

O MEU BARCO DE PAPEL


João Chamiço

Fiz um barco de papel

Que fui pôr a navegar

Prendi-o com um cordel

P’ra ir com ele brincar.

 

O meu barco de papel

Sem que eu saiba explicar

Quebrou o fino cordel

E lançou-se no alto mar.

 

Eu fiquei, a vê-lo partir,

Desgostoso no meu cais;

Queria nele seguir

Mas era tarde demais.

 

Vi-o partir, na viagem

E eu, tão estranhamente

Fixado na sua imagem

Olhava-o infinitamente.

 

Então, como por engano

Dei comigo embarcado

Entre as vagas do oceano

E o céu todo estrelado.

 

Só vi brincando felizes

Meninos por toda a terra

Fui a todos os países

Nunca vi fome nem guerra.

 

Em bátegas de furor

E tardes de calmos ventos,

Era a mão do Redentor

A livrar-me dos tormentos.

 

Que faço neste batel

Todo feito de papel?

Não me perguntem, não sei

Nem como foi que embarquei.

 

Mas o barco de papel

No rumo que leva a vida

Veio ancorar no cordel

Ao mesmo cais da partida.

 

Esta história que contei

Do meu barco de papel,

Acabou quando acordei

Sem ter barco nem cordel.

 

2004-02-29

F. Januário (pseudónimo)

10.03.06

A AMIZADE


João Chamiço

A AMIZADE

Deu-me a vida a incumbência

De sempre dar à amizade

Forma, vulto e conteúdo,

Porque nela a transparência

E o valor da lealdade

São na vida, mais que tudo.

 

É sem regras definidas

E o logro em pano de fundo

Que os embusteiros se entendem,

E as amizades fingidas

É que governam o mundo

Onde os pudores se vendem.

 

Se a amizade fosse um vulto

Bem posto em evidência

E linhas bem definidas,

Desvendaria o insulto

À própria inteligência

Das amizades fingidas.

 

Se a amizade fosse somente

Chamar de amigos sem terem

Por eles bons sentimentos,

Não faltava p’ra aí gente

Sem os “amigos” saberem

Contando amigos aos centos.

 

2005-04-03

João Chamiço

09.03.06

O CAMPINO


João Chamiço

O Campino

 É um cavaleiro sempre altivo

"Rei sem trono, Conde sem condado".

Usa jaqueta vermelho vivo

Da cor do seu sangue derramado.

 

Quando veste o colete encarnado

Traz os touros negros na lembrança,

E P'ra um dos lados pendurado

O barrete verde, cor da esperança.

 

Quando leva os touros à praça,

Gera-se em si um turbilhão,

Por mouchões e lezírias em flor;

 

Entre o desejar a mansidão

E faltar à "festa" esplendor,

Prefere que o touro tenha "raça".

 

F. Januário

05.03.06

O CARPINTEIRO


João Chamiço

Talha as portas da casa onde mora


E talha as janelas também;


Antemanhã, ao romper d’aurora


Debruça-se nelas o seu bem.


 


Brincando a sério, faz brinquedos


E o soalho do seu salão,


E arcas onde guarda os segredos


E martírios do seu coração.


 


As tábuas que formam o seu leito


São feitas da mais fina madeira


Aplainadas com todo o preceito,


 


Faz a mesa onde poisa o pão,


O cadeirão, a mesa, a cadeira


Outros, hão-de fazer seu caixão.


 


F. Januário (pseudónimo)

05.03.06

O MAESTRO


João Chamiço


O maestro, rege a orquestra


Com a sua batuta agitada,


Que risca o ar em ar de festa


Numa dança assaz complicada.


 


Entendem-na os executantes


Que nas entrelinhas a lêem,


Enquanto os leigos expectantes


Tentam entender o que vêem.


 


Um gesto ao primeiro instrumento,


Um outro à multidão coesa


De múltiplos sons bem unidos,


 


Quebra-se brusco o andamento,


Rende-se a plateia surpresa


Brindando aplausos merecidos.


 


F. Januário (pseudónimo)

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