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Aqui, no OBSERVANTES, têm lugar privilegiado:

A poesia, os sonhos e a utopia. A critica incisiva às realidades concretas de Portugal e do mundo baseadas na verdade constatada e só nela. "A verdade nunca é injusta; pode magoar, mas não deixa ferida". (Eduardo Girão)

Aqui, no OBSERVANTES, têm lugar privilegiado:

A poesia, os sonhos e a utopia. A critica incisiva às realidades concretas de Portugal e do mundo baseadas na verdade constatada e só nela. "A verdade nunca é injusta; pode magoar, mas não deixa ferida". (Eduardo Girão)

18.02.06

PENSAMENTOS INFINITOS


João Chamiço

Há duas coisas que são, sem enganos,


Tão infinitas, que nunca caberiam num verso.


Uma delas, é o infinito Universo


E a outra, a estupidez dos humanos.


 


Ainda assim, há que distinguir por sensatez


Que o Universo, poderá não ser infinito,


Enquanto que eu garanto e fica escrito


Que é infinita nos humanos a estupidez.


 


Quando quiseres apontar um dedo a alguém


Deves também olhar para ti com mil cuidados.


Que na mesma mão desse dedo tu tens também


Outros três dedos que para ti ficam virados.


João Chamiço


2004-03-17

17.02.06

ESPERANÇA


João Chamiço

Se escutares os pintassilgos a cantar


Respondendo ao desafio das filomelas,


Repara no sol, sobre o monte a cavalgar


Enquanto surgem na paisagem aguarelas


Salpicadas de rosmaninho e macelas.


 


Se dejectarem nos teus ombros os pardais,


Volta atrás e lê a minha primeira rima


E concentra-te no reverso que a sublima


Se te sugarem os vampiros liberais


Ou dejectarem nos teus ombros os pardais.


 


Se alguém te cravar na alma o seu arpéu,


Lembra-te dos lírios, e de todas as flores,


E do extenso abraço, feito de mil cores


Que o arco-íris borda no azul do céu,


Se nas grilhetas de algum “ismo” fores réu.


 


Se dejectarem nos teus ombros os pardais,


Se te sugarem os vampiros liberais,


Volta a escutar os pintassilgos a cantar


 


Respondendo ao desafio das filomelas,


Repara no sol, sobre o monte a cavalgar


Enquanto surgem na paisagem aguarelas.


 


João Chamiço

17.02.06

»»»»»»»A ÁRVORE NÃO SABE, MAS TU SIM ««««««««


João Chamiço

Uma árvore nasce onde cai a semente

Ou cresce no lugar onde é plantada.

Quer seja junto à berma de uma estrada

Ou numa floresta resplandecente

Ou no canteiro de um jardim

A árvore não sabe, mas tu sim.

 

Quando uma árvore é plantada

Ainda na sua tenra infância

Mesmo à beira de uma estrada

E não cresce num belo jardim

Por incúria ou por ganância

A árvore não sabe, mas tu sim.

 

E quando a árvore cede ao temporal

E tomba ao chão ferida de morte

Sem ter adivinhado o seu fim

Na sua condição de vegetal

Não sabe a quem vai mudar a sorte

A árvore não sabe, mas tu sim.

 

E quando ela, ao cair mata gente

Ou lhe deixa toda a esperança perdida

E lhe esmaga todos os sonhos duma vida

E tanto pode ser a ti como a mim

Ou a qualquer ministro ou presidente

A árvore não sabe, mas tu sim.

 

Todos nós vivemos essa ameaça

Mas fingimos que tal não nos diz nada

Se isto é de um ser racional, ai de mim

Enquanto a tragédia aguarda quem passa

Talvez num dia de má sorte numa estrada

Nenhum outro alguém morra, mas tu sim.

 

2004-02-03

João Chamiço.

 

 

Foi a pensar na Mónica Silva de Samora Correia que me pus a "pintar este retrato triste". Ela tem amigos anónimos que pensam nela e que têm comprado os seus bonitos postais por ela pintados com a boca.

 Mas tenho a certeza que ela concorda comigo quando digo que estas tragédias não deveriam ser encaradas com leviandade por todos nós.

 A prevenção sempre foi o melhor remédio para todos os males. As árvores não sabem disto nem têm obrigação de saber. É a nós, seres “superiores?” e “racionais?” que compete não nos tornarmos vegetais, quer em consequência dos desastres, quer porque é como vegetais que nos comportamos quando não assumimos a nossa qualidade de seres pensantes e não prevenimos as tragédias que temos a certeza que vão acontecer e que está nas nossas mãos evitá-las. A árvore não sabe, mas nós sim!.

17.02.06

******* O INVERNO *******


João Chamiço

Adivinha-se o solstício

Quando o dia mais curto chega,

E o sol, declinando em suplício

Em hibernação se aconchega.

 

Todas as folhas já caíram,

E as árvores adormeceram,

Só as poucas que resistiram

De adormecer, se esqueceram.

 

Encheram-se as secas ribeiras

Quando o leito se tornou rio

Até às margens sobranceiras.

 

Se lhes falharem os instintos

Sucumbem à neve e ao frio

Matilhas de animais famintos.

 

2003-05-12

João Chamiço

16.02.06

AO PRIMEIRO CANTER DA COTOVIA


João Chamiço

Ao primeiro cantar da cotovia


Desvanecia-se a noite de breu


Que de velhas auroras floresceu


Sempre travestida de novos mantos,


Ao primeiro cantar da cotovia


Pariam alegrias velhos prantos.


 


Brilhante e florida de mil cravos


Velando as grilhetas das prisões


Que de par em par se escancaravam.


Ficavam libertos os homens bravos


E as mulheres de assentes convicções,


E presos os carrascos que os guardavam.


 


Serena aurora, sem mortes nem tiros,


Porque na hora exacta o soldado


Observou com razão a ordem certa.


Mas há muitos morcegos e vampiros


Hibernados nas trevas do legado


E faz falta sentinelas alerta.


 


Faz falta estar desperto e atento


E manter-se acordada a sentinela


De cada vez que clarear o dia.


Um cravo em riste, em cada momento,


Botão de espingarda e de lapela


Ao primeiro cantar da cotovia.


 


João Chamiço


2003-10-21

16.02.06

MINHA VELHA ESCOLA


João Chamiço

Velha escola abandonada


Foste ninho de tantos “pardais”


Hoje, encontras-te reformada


Porque ficaste grande demais.


 


Estás no pensamento constante


Daqueles que em teu seio estudaram,


Agora, uma pequena é bastante


P’ros poucos pardais que ficaram.


 


De calça rota iam p’rá escola


Iam de calções os “pardais”


Com a ardósia na sacola,


 


Ficou triste o teu semblante


Porque ficaste grande demais


Agora, uma pequena é bastante.


 


João Chamiço

16.02.06

PALAVRA MULHER


João Chamiço


Abra-se um livro de poesia


Ao acaso num poema qualquer,


E talvez, ainda que por magia,


Conste nele a palavra mulher.


 


Mas essa, pode não ser afinal


A palavra que mais entoa,


Nesse poema circunstancial


Dessa página aberta à toa.


 


Talvez mãe, seja a forte razão


Ou ainda, razão maior seja só,


Se a palavra lá não estiver,


 


Uma propositada omissão


De quem escrevendo; mãe, filha e avó


Quisesse apenas escrever; Mulher.


 


João Chamiço

12.02.06

O EMIGRANTE


João Chamiço

Nas ruas do meu país


Passam pessoas estranhas,


Como plantas sem raiz,


Com a pátria nas entranhas,


Perdida na noite escura


Que ficou lá na lonjura.


 


Gente de semblante diferente,


Não se entende o seu falar,


E com o regresso vão sonhando


Mas para sempre vão ficando


Na lembrança permanente


Da distância do seu lugar.


 


Nas ruas do meu país


Passeiam estranhas figuras,


Que vão desfiando tristezas


De um novelo de incertezas,


Fazem hoje o que eu já fiz


Noutras estranhas lonjuras.


 


Vêm do leste europeu


Ou transpondo os oceanos,


E num um país que não é seu,


À mercê dos desenganos.


Em busca de melhor sorte


Encontram às vezes a morte.


 


São em terra alheia sepultados,


E nos cemitérios do meu país


Vão p’ra sempre jazer ignorados.


Abandonados como animais,


Longe da casa dos seus pais,


Fazem hoje o que eu já fiz.


 


Nas ruas de um país distante


Passa um português emigrante,


Ele esconde saudade tamanha


E falando uma língua estranha,


Lá longe num estranho país,


Faz ele hoje; o que eu já fiz.


 


João Chamiço


 


 


Este poema foi lido em Basse Goulaine, França, Bretanha, num Concerto de Música Coral em Outubro de 2002.


Na Antena 1, foi dito na quarta-feira dia 04/12/2002, na abertura do programa “Meia Tarde” dedicado à emigração em Portugal.

10.02.06

A NOITE


João Chamiço


A noite, não é só feita de medos


Nem apenas de sombras duvidosas


E das suas histórias assombrosas


Nem sempre os finais tem de ser medonhos,


A noite, também desvenda segredos


E às vezes é povoada de sonhos.


 


Quando a noite é tenebrosa e fria


Há luzes acesas no céu, eternas


Que oscilam como terrenas lanternas,


Suavizam a infausta escuridão.


A alma desperta p’rá poesia


E atiça em nós a inspiração.


 


Quando a noite, acontece apressada


Viajando para sonhos distantes


Enquanto dá lugar à madrugada,


Esperam por ela outras estrelas


Cintilantes noutros vastos quadrantes


E outros poetas estarão a vê-las.


 


Quando a noite é de forte luar


Hão-de ver-se mais fantasmas da rua


Pelas sombras da noite a deslizar.


Formas projectadas p’la luz da lua


Silhuetas de pares amorosos


Omitem-se aos olhares curiosos.


 


Dos que roubam, a noite é aliada,


Aos amantes dissimula a paixão,


Aos que sonham, cede cumplicidade,


Aos que se escondem dá protecção,


Às estrelas vai despindo a claridade


À medida que cede à madrugada.


 


De noite, os anões são enormes


E todos os gatos se tornam pardos


Gigantes e ferozes leopardos;


As sombras adquirem formas disformes


E uma coruja desassossegada


Transforma-se numa “alma penada”.


  


Diz-se que a noite é boa conselheira,


Quando se adormece rebentado


Se as noites nos transportam ao passado


Mesmo aos que não têm eira nem beira,


Elas podem até ser admiráveis


Sejamos nós ricos ou miseráveis.


 


Quando alguém permanece acordado


E na noite, fita a imensidão,


A beleza eterna do céu estrelado


Como um campo semeado de estrelas,


Imaginamo-nos no meio delas


Transpostos para outra dimensão.


 


Congeminamos milhões de segredos


Dispostos como pedras preciosas


Ao redor de um pescoço de donzela


Que na mente se nos retrata bela,


Que a noite não é só feita de medos


Nem apenas de sombras duvidosas.


 


F.Januário

10.02.06

ERROS


João Chamiço

 O maior erro que um homem pode cometer é viver com medo de cometer um erro. (Hebbard)


Um homem nunca deve envergonhar-se por reconhecer que se enganou, pois isso equivale a dizer que hoje é mais sábio do que era ontem. (Jonathan Swift)


 Metade dos nossos erros na vida nascem do facto de sentirmos quando devíamos pensar e pensarmos quando devíamos sentir.(J. Collins)