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Aqui, no OBSERVANTES, têm lugar privilegiado:

A poesia, os sonhos e a utopia. A critica incisiva às realidades concretas de Portugal e do mundo baseadas na verdade constatada e só nela. "A verdade nunca é injusta; pode magoar, mas não deixa ferida". (Eduardo Girão)

Aqui, no OBSERVANTES, têm lugar privilegiado:

A poesia, os sonhos e a utopia. A critica incisiva às realidades concretas de Portugal e do mundo baseadas na verdade constatada e só nela. "A verdade nunca é injusta; pode magoar, mas não deixa ferida". (Eduardo Girão)

24.02.06

DO TEMPO DA OUTRA SENHORA


João Chamiço

Sei que se lavrou certidão


Da data do meu nascimento


No tempo da “outra senhora”,


Mas recordo-me desde então


Que nunca, em nenhum momento


Desse tempo guardei penhora.


 


Ainda assim quero expressar


Que ser tratado assim, aceito


Se for nobre a intenção,


Porém, posso desconfiar


Que indecoroso conceito


Desonra a minha certidão.


 


Sou do passado e do presente


De olhos postos no há-de vir,


Trago sonhos novos de agora


Sonhados desde antigamente


Quando era proibido sorrir


No tempo da outra senhora.


 


Mas sei que há “doenças sem cura”


Que tenho com toda a certeza


E vou ter pela vida fora;


A paixão p’la nossa cultura


E pela língua portuguesa


Do tempo de qualquer senhora.


 


Não esqueço Humberto Delgado


Nem os da mesma convicção


Desses que nos faltam agora.


Foi pela Pide assassinado


Mas não dizia a certidão


Do tempo da outra senhora.


 


Uso as novas tecnologias


Sem saudosismo pacóvio


Na crista do tempo a cavalgar,


Sem desmedidas euforias


Tenho por verdade, o óbvio


Diariamente a mudar.


 


Preocupa-me a natureza


O lixo e a poluição


De ontem, de amanhã e de agora,


Sou fanático da defesa


Das nossas matas no Verão


De antes da outra senhora.


 


Se alguém razão poderá ter


Interrogo-me eu então


Depois do que aqui se descreve,


Como pode alguém sem saber


Enxovalhar-me a certidão?


Claro que pode, mas não deve.


 


Estou vigilante às mudanças


Que o comboio não se detêm


Mas tem de ser encaminhado,


P’ra que amanhã novas crianças


Sejam defensoras do bem


Por outras antes semeado.


 


Olho em frente, sei de onde venho


Sem poluição me apresento


Trago energia aliciadora


E que ricas jazidas tenho,


Sou filho do sol e do vento


Do antes da outra senhora.


 


Mas quantos há, que pese embora


Serem de um tempo aquém daquele


Ao invés da mentalidade,


São do tempo da outra senhora


Mas sem terem sabido nele


Qual o preço da liberdade.


 


Devem fazer introspecção


E a sua mente bem cuidar


Quem pensa que o tempo demora,


Lesto, à própria certidão


Indeléveis sinais vai dar


De um tempo de outra senhora.


 


F. Januário