Uma árvore nasce onde cai a semente
Ou cresce no lugar onde é plantada.
Quer seja junto à berma de uma estrada
Ou numa floresta resplandecente
Ou no canteiro de um jardim
A árvore não sabe, mas tu sim.
Quando uma árvore é plantada
Ainda na sua tenra infância
Mesmo à beira de uma estrada
E não cresce num belo jardim
Por incúria ou por ganância
A árvore não sabe, mas tu sim.
E quando a árvore cede ao temporal
E tomba ao chão ferida de morte
Sem ter adivinhado o seu fim
Na sua condição de vegetal
Não sabe a quem vai mudar a sorte
A árvore não sabe, mas tu sim.
E quando ela, ao cair mata gente
Ou lhe deixa toda a esperança perdida
E lhe esmaga todos os sonhos duma vida
E tanto pode ser a ti como a mim
Ou a qualquer ministro ou presidente
A árvore não sabe, mas tu sim.
Todos nós vivemos essa ameaça
Mas fingimos que tal não nos diz nada
Se isto é de um ser racional, ai de mim
Enquanto a tragédia aguarda quem passa
Talvez num dia de má sorte numa estrada
Nenhum outro alguém morra, mas tu sim.
2004-02-03
João Chamiço.
Foi a pensar na Mónica Silva de Samora Correia que me pus a "pintar este retrato triste". Ela tem amigos anónimos que pensam nela e que têm comprado os seus bonitos postais por ela pintados com a boca.
Mas tenho a certeza que ela concorda comigo quando digo que estas tragédias não deveriam ser encaradas com leviandade por todos nós.
A prevenção sempre foi o melhor remédio para todos os males. As árvores não sabem disto nem têm obrigação de saber. É a nós, seres superiores? e racionais? que compete não nos tornarmos vegetais, quer em consequência dos desastres, quer porque é como vegetais que nos comportamos quando não assumimos a nossa qualidade de seres pensantes e não prevenimos as tragédias que temos a certeza que vão acontecer e que está nas nossas mãos evitá-las. A árvore não sabe, mas nós sim!.