AO PRIMEIRO CANTER DA COTOVIA
João Chamiço
Ao primeiro cantar da cotovia
Desvanecia-se a noite de breu
Que de velhas auroras floresceu
Sempre travestida de novos mantos,
Ao primeiro cantar da cotovia
Pariam alegrias velhos prantos.
Brilhante e florida de mil cravos
Velando as grilhetas das prisões
Que de par em par se escancaravam.
Ficavam libertos os homens bravos
E as mulheres de assentes convicções,
E presos os carrascos que os guardavam.
Serena aurora, sem mortes nem tiros,
Porque na hora exacta o soldado
Observou com razão a ordem certa.
Mas há muitos morcegos e vampiros
Hibernados nas trevas do legado
E faz falta sentinelas alerta.
Faz falta estar desperto e atento
E manter-se acordada a sentinela
De cada vez que clarear o dia.
Um cravo em riste, em cada momento,
Botão de espingarda e de lapela
Ao primeiro cantar da cotovia.
João Chamiço
2003-10-21