O EMIGRANTE
João Chamiço
Nas ruas do meu país
Passam pessoas estranhas,
Como plantas sem raiz,
Com a pátria nas entranhas,
Perdida na noite escura
Que ficou lá na lonjura.
Gente de semblante diferente,
Não se entende o seu falar,
E com o regresso vão sonhando
Mas para sempre vão ficando
Na lembrança permanente
Da distância do seu lugar.
Nas ruas do meu país
Passeiam estranhas figuras,
Que vão desfiando tristezas
De um novelo de incertezas,
Fazem hoje o que eu já fiz
Noutras estranhas lonjuras.
Vêm do leste europeu
Ou transpondo os oceanos,
E num um país que não é seu,
À mercê dos desenganos.
Em busca de melhor sorte
Encontram às vezes a morte.
São em terra alheia sepultados,
E nos cemitérios do meu país
Vão pra sempre jazer ignorados.
Abandonados como animais,
Longe da casa dos seus pais,
Fazem hoje o que eu já fiz.
Nas ruas de um país distante
Passa um português emigrante,
Ele esconde saudade tamanha
E falando uma língua estranha,
Lá longe num estranho país,
Faz ele hoje; o que eu já fiz.
João Chamiço
Este poema foi lido
Na Antena 1, foi dito na quarta-feira dia 04/12/2002, na abertura do programa Meia Tarde dedicado à emigração em Portugal.