A NOITE
João Chamiço
A noite, não é só feita de medos
Nem apenas de sombras duvidosas
E das suas histórias assombrosas
Nem sempre os finais tem de ser medonhos,
A noite, também desvenda segredos
E às vezes é povoada de sonhos.
Quando a noite é tenebrosa e fria
Há luzes acesas no céu, eternas
Que oscilam como terrenas lanternas,
Suavizam a infausta escuridão.
A alma desperta prá poesia
E atiça em nós a inspiração.
Quando a noite, acontece apressada
Viajando para sonhos distantes
Enquanto dá lugar à madrugada,
Esperam por ela outras estrelas
Cintilantes noutros vastos quadrantes
E outros poetas estarão a vê-las.
Quando a noite é de forte luar
Hão-de ver-se mais fantasmas da rua
Pelas sombras da noite a deslizar.
Formas projectadas pla luz da lua
Silhuetas de pares amorosos
Omitem-se aos olhares curiosos.
Dos que roubam, a noite é aliada,
Aos amantes dissimula a paixão,
Aos que sonham, cede cumplicidade,
Aos que se escondem dá protecção,
Às estrelas vai despindo a claridade
À medida que cede à madrugada.
De noite, os anões são enormes
E todos os gatos se tornam pardos
Gigantes e ferozes leopardos;
As sombras adquirem formas disformes
E uma coruja desassossegada
Transforma-se numa alma penada.
Diz-se que a noite é boa conselheira,
Quando se adormece rebentado
Se as noites nos transportam ao passado
Mesmo aos que não têm eira nem beira,
Elas podem até ser admiráveis
Sejamos nós ricos ou miseráveis.
Quando alguém permanece acordado
E na noite, fita a imensidão,
A beleza eterna do céu estrelado
Como um campo semeado de estrelas,
Imaginamo-nos no meio delas
Transpostos para outra dimensão.
Congeminamos milhões de segredos
Dispostos como pedras preciosas
Ao redor de um pescoço de donzela
Que na mente se nos retrata bela,
Que a noite não é só feita de medos
Nem apenas de sombras duvidosas.
F.Januário