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Aqui, no OBSERVANTES, têm lugar privilegiado:

A poesia, os sonhos e a utopia. A critica incisiva às realidades concretas de Portugal e do mundo baseadas na verdade constatada e só nela. "A verdade nunca é injusta; pode magoar, mas não deixa ferida". (Eduardo Girão)

Aqui, no OBSERVANTES, têm lugar privilegiado:

A poesia, os sonhos e a utopia. A critica incisiva às realidades concretas de Portugal e do mundo baseadas na verdade constatada e só nela. "A verdade nunca é injusta; pode magoar, mas não deixa ferida". (Eduardo Girão)

04.02.06

Este Mar de Gente


João Chamiço

Os abutres poisavam na rua


E os cães, há muito que ladravam.


No ar, já sobravam os latidos,


O ar tresandava a carne crua;


Os lobos, há muito que uivavam


E havia rebanhos distraídos.


 


Sei bem que te apetece chorar


Quando os sonhadores e os profetas


Cedem a passagem aos sendeiros.


Sei bem que te apetece sonhar


Se esmorecem sonhos de poetas


E as lesmas se arrastam nos carreiros.


 


E os cães, há muito que ladravam


E havia um caudal que engrossava


E já se via o mar em frente.


E havia rios que transbordavam


E a torrente que desaguava


E este mar, era um mar de gente!.


 


Eram muitos, mais que um milhão


E este mar, era um mar de gente!.


E vagas imponentes soltavam


No ar os versos em turbilhão


Ao novo alvorecer premente.


E os cães, há muito que ladravam.


 2006-02-03

        João Chamiço
04.02.06

OS CÃES HAVIA MUITO QUE LADRAVAM


João Chamiço

    "Os cães" havia muito que ladravam. Incomodavam-nos os pequenos "pingos de chuva" que começavam a cair nos pátios privativos dos seus donos. Os minúsculos, os insignificantes "pingos de chuva", começaram a multiplicar-se, os regatos passaram a riachos, os riachos a ribeiras, e as ribeiras apressaram-se a correr para o rio engrossando cada vez mais o caudal que no início era quase inexistente. Na foz do rio, lá à frente, já se vislumbrava o mar; mas este era um mar diferente, era um mar de gente, mais de um milhão, que espontaneamente se lançaram no caudal daquele rio que começara com meia dúzia daqueles "pingos de chuva" que tanto incomodaram os "cães e que, tanto os fizeram ladrar.

     Porém, os animais, mesmo os mais ferozes, mesmo os mais agressivos e arreigados defensores do território, também eles são por vezes acometidos de grande cobardia, quando as condições atmosféricas se alteram e a dimensão do caudal os assusta ao ponto de se irem enfiar na palha da casota caladinhos que nem ratos.

    Achamos até que, é caso para se poder dizer: se um só Alegre, assusta muita gente, um milhão de alegres assustam muito mais, e o caudal do rio nunca mais vai diminuir, e os "cães nunca mais vão ladrar por essa razão". Cuidado portanto; que as "dentadas, essas irão ser nos calcanhares".